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Todos
sabem que, em 25 de Abril de 1974, a REVOLUÇÃO DOS CRAVOS, terminou
com 50 anos de ditadura de Salazar.
Mas
… quem foi Salazar?
A
esta pregunta tentarei, hoje, responder, nesta primeira entrega do
blog: … VERMELHO … SÄO OS CRAVOS … .
ANTÓNIO
DE OLIVEIRA SALAZAR, nasceu em Santa Comba Dão, perto de Vimieiro,
concelho de Viseu, em 28 de Abril de 1889.
De
quatro raparigas, Salazar foi o único filho varão de uma familia de
camponeses.
Em
1905 entrou, como seminarista, num convento de Viseu …
mas
a falta de vocação era visível.
Em
1910 muda-se para Coimbra e começa a estudar direito.
Em
1914 termina a sua formatura em direito e começa a estudar economia
que termina dois anos depois.
Aluno
excepcional torna-se professor da cátedra de Economia Politica e
Finanças.
Na
universidade, faz amigos, mas também entra em conflictos, defendendo
o poder da Igreja, em contra de opiniões de républicanos e
monarquicos.
Muito
jovem chega a acompanhar o Cardeal Cerejera, então o homem máximo
da igreja em Portugal.
De
tal modo se destaca que se apresenta como candidato a deputado por
Guimarães … é eleito.
Mas
a sua aventura parlamentar dura somente 48 horas … profundamente
decepcionado com todo o ambiente vivido na politica desde dentro,
volta à universidade.
É
como professor que conhece o golpe de estado de 28 de Maio de 1926,
quando os militares se revoltam contra o regimen da Primeira
Republica.
O
novo nome, saido desse levantamento militar é o General Oscar
Carmona, que ao estudar a formação do novo governo, pensa em
Salazar.
O
convite chega em Junho desse ano e o novo presidente do governo
pede-lhe para que ocupe a pasta de Ministro das Finanças.
O
país esta sumergido numa profunda crise social e politica … mas
principalmente económica.
Salazar
chega a Lisboa, estuda a situação e diz ao presidente:
---
Só poderei fazer algo se todas as contas do estado, sem excepção,
passam pelas minhas mãos.
A
ideia do controlo económico absoluto, em mãos de um só homem, não
foi do agrado dos politicos de outros departamentos.
Treze
dias depois, e perante a negativa de Carmona, Salazar demite e volta,
uma vez mais, para Coimbra.
Dois
anos mais tarde, depois dos visiveis fracassos das medidas económicas
o governo português, voltam a chamá-lo para ocupar Finanças, e
prometem-lhe o controlo.
Salazar
volta e começa a trabalhar.
De
imediato controla os gastos e ingressos de todos os ministerios,
impôs uma forte austeridade e um rigoroso controlo das contas,
conseguindo un superávit nas finanças publicas, depois do exercicio
económico de 1928-29, e esforçando-se em manter um orçamento
equilibrado, indo ao extremo de cortar severamente os gastos do
Estado … chegou ao ponto de baixar o ordenado de todos os membros
do governo, começando por el mesmo.
Num
ano, Salazar solucionou a crise portuguesa do momento, reduzindo os
gastos publicos, aumentando a producção, tentano exportar mais do
que importava e pagando a divida externa motivada pelos empréstimos
que se haviam pedido ao estrangeiro.
A
sua popularidade aumentou rapidamente, contando com o apoio do
exercito e da direita, que começavam a vê-lo como um heroi.
A
direita tenta, com a crise já superada, limitar-lhe os poderes, mas
Salazar ameaça com dimitir, se o fazem.
Os
partidos mais à esquerda estão internamente divididos e a sua
oposição näo tem força.
A
sua influencia faz-se sentir até ao ponto que o mesmissimo
presidente não dá um passo sem antes consultá-lo.
A
instabilidade politica chega ao governo … há desavenças entre os
próprios ministros.
Salazar
propõe a Carmona, uma medida para unificar o país … crear um
partido único onde todos se unissem --- “pelo bem da nação”.
Carmona
aceita e aparece a União Nacional.
Aproveitando
a evidente desagregação do governo, o presidente pede a Salazar que
seja primeiro ministro.
Como
siempre, Salazar apresenta condições … além do novo poder que
lhe vem pelo cargo não abre mão do poder económico, que já tinha.
Em
1932 assume o papel de Primeiro Ministro de Portugal, e, de imediato,
chama os principais professores universitários de direito para
desenhar uma nova constituição.
Profundamente
anti-monárquico, Salazar aproveita a morte de D.Manuel II, o rei
português exilado e começou a destruição total do mito da
monarquia, nacionalizando as antiguas propriedades da dinastia de
Bragança e creando a Fundação da Casa de Bragança.
Em
1933 escrita e aprovada em plebiscitio, a nova Constituiçäo entra
em vigor … aquilo a que o próprio Salazar chamaria de Estado Novo,
um regimen nacionalista coorporativo com amplos poderes conferidos ao
executivo no controlo do Estado.
Sem
nunca sair de Portugal, Salazar é um político muito bem informado
de tudo o que se passa dentro e fora das fronteiras do país.
A
situação política em Espanha, com um governo de esquerda,
preocupa-o.
Para
evitar a entrada de alguma influencia em Portugal, cria a PIDE,
Policia Internacional e Defesa do Estado.
Por
isso viu com bons olhos a revolta do Genral Franco, a quem
proporcionou um importante apoio logistico, permitindo, por exemplo,
a comunicação entre os exercitos revoltosos do norte e do sul,
quando ainda não podiam estabelecer contacto por terra, concedendo
livre transito a abastecimentos militares e armamento destinados ao
bando nacional, enquanto repatria os refugiados republicanos,
contribuindo mesmo com um pequeno exercito … Os Viriatos.
Chegado
ao poder, Franco diria sobre ele:
“
O homem de Estado mais completo, o mais digno de respeito que
conheci, é Salazar. Considero-o uma personalidade extraordinária,
pela sua inteligencia, o seu sentido politico, a sua humanidade. O
seu unico defeito é, provavelmente, a sua modestia.”
Mas,
terminada a Guerra Civil Espanhola vem a II Guerra Mundial.
Analizando
a situação, Salazar começa a ter medo que uma possivel união
entre Franco e Hitler termine com a invasão de Portugal, pelo
primeiro, a fim de anezar o país e ficar assim com uma porta aberta
directamente ao Atlântico.
Internamente
a Igreja portuguesa começa a requerer mais poder e indemenizações
pelos bens confiscados pelos governos da primeira republica, de
espirito laico.
Salazar
é um homem profundamente religioso mas não permite as
indemenizações, vincando muito fortemente a separação de poderes
entre o estado e a igreja e assinando com o Vaticano um acordo em
1940.
Durante
o conflito bélico mundial, Salazar luta por manter-se neutral … o
quase …
Para
evitar o seu medo pela possivel invasão, chama a Lisboa ao irmão de
Franco, Juan, (que seria embaixador de Espanha em Lisboa) e começa
contactos diplomáticos para evitar qualquer aliança entre Espanha e
Alemanha … e consegue o que pretende assinando um Pacto Ibérico em
1942.
Oliveira
Salazar não tolerou desvios dos diplomáticos portugueses que
arrisgaram a sua politica externa.
Quando
o consul português em Burdeos, ARISTIDES DE SOUSA MENDES, concedeu
uma grande quantidade de visados a refugiados judios que tratavam de
escapar aos nazis, ignorando as ordens do Ministério de Assuntos
Exteriores, Salazar foi implacável e destituiu-o … Salazar tinha
dado ordens explicitas para não outorgar visados portugueses a
refugiados de guerra.
Quando
Aristides voltou a Portugal foi expulso do serviço público e
privado das suas liberdades civis falecendo em completo esquecimento
e em notoria miseria em 1954.
Em
1943, Salazar abastecia os alemães de volframio das minas
portuguesas, muito importante para as fábricas de material de guerra
de Alemanha e, ao mesmo tempo, permitia a americanos e ingleses a
construcção de bases militares nas ilhas dos Açores.
Embora
manifestasse a sua simpatia pesssoal para com os governos de Espanha
e Italia, mantinha embaixadas nos países de ambos os lados do
conflito.
Curiosamente,
em Lisboa, coincidiam, na Baixa, as embaixadas de Alemanha, Espanha,
Italia, Reino Unido e Estados Unidos, permitindo os seus movimentos e
acções de espionagem.
Oliveira
Salazar enviou a Alemanha uma mensagem oficial de condolencias pela
morte de Adolfo Hitler, sendo um dos dois unicos telegramas de
pésames que um governo extrangeiro remitiu para esse efeito ( o
outro foi de Irlanda entäo governada por Éamon de Valera).
Terminada
a guerra, Salazar tomou definitivamente o lado do Reino Unido e
Estados Unidos … mais ainda, quando se instala a Guerra Fria e ele
se declara profundamente anti-comunista.
Nos
inicios dos anos 60, Portugal distanciava-se dos outros países
europeus pela sua baixa industrialização e atrazo productivo … já
haviam terminado os anos de auge económico.
Começa
o êxodo massivo de portugueses emigrando para França … alguns
para o Brasil.
A
oposição interna continua controlada pela PIDE e por uma censura
muito fechada.
Alguns
politicos, como o General Humberto Delgado apresentam-se a elecções,
em 1958, contra o candidato apoiado por Salazar, Américo Tomas …
embora se reuna a ele toda a oposição do país perde, e se exila,
gritando fraude, e organizando uma certa resistencia desde o
exterior.
Depois
da segunda guerra mundial há um movimento de países a nivel mundial
que decidem, cada um à sua maneira, abdicar das colónias
ultramarinas, por um lado porque eram um gasto económico elevado,
por outro lado, pelos diversos movimentos de libertação locais.
Mas
Salazar defende exactamente o contrário … o Imperio Ultramarino
Português.
Angola,
Moçambique, Guiné, Cabo Verde, (Goa Damão e Diu já estavam
perdidas tal como a metade de Timor), levantam-se em armas defendendo
a sua independencia e Salazar começa a mandar numerosos exércitos
para defender as suas posições.
O
serviço militar é obrigatório e todos os jovens passam um minimo
de 4 anos combatendo em África … muitos não regressarão.
Sendo
parte integrante da OTAN (Nato) desde 1949, Portugal recebe pressões
dos seus membros para terminar com essa guerra.
Salazar
nega-se determinantemente alegando que, sendo Portugal um país tão
pequeno necessita as suas extensões territoriais para poder ombrear
com os países mais grandes.
O
efeito é o contrário e pouco a pouco Portugal sofre um isolamento
que afecta ainda mais a sua economia.
A
isso se referiria um dia, nas suas habituais “Conversas em
Familias” na RTP, com uma das suas frases historicas . “ Estamos
orgulhosamente sós.”
Perdendo
poder económico e arrastrados a uma guerra colonial, a oposição
interna torna-se mais tarde … mas tambem a repressão.
A
PIDE é uma policia muito bem organizada, infiltrada em todos os
sitios e organismos … Partido Comunista (clandestino) incluído.
Cria-se
o primeiro “Guantanamo” da história, em Tarrafal, uma terrivel
prisão onde se entrava sem julgamento e raramente se saía com vida.
O
opositor Humberto Delgado aparece morto em Vila Nueva del Fresno,
perto de Badajoz, em Fevereiro de 1965.
Os
intentos sindicalistas são sufocados, morrendo gente como Catarina
Eufémia, que se transformaria em mártir e num exemplo de luta para
outros movimentos.
A
nivel de obras públicas, Oliveira Salazar, manda construir entre
outras, a Ponte Salazar ( agora Ponte 25 de Abril), o
Miradouro-Monumento a Crsito-Rei, que demonstra a sua aliança com o
catolicismo conservador e Portugal, o Estádio Nacional, onde ainda
hoje se realizam as finais de futebol da Taça de Portugal, o
Aeroporto de Lisboa e o Instituto de Estatistica de Portugal.
Em
Setembro de 1968, António de Oliveira Salazar, com 78 anos, sofre
um acidente, ao cair da cadeira, onde se senta todos os dias para
receber gente.
A
queda provoca-lhe um derrame cerebral de que já não se recuperaria.
Morre
em sua casa, em Junho de 1970.
Indiscutivelmente,
Oliveira Salazar foi, muito possivelmente um dos melhores economistas
que já teve Portugal.
No
seu percurso de vida vejo tres fases:
A
primeira - a fase do ministro de Finanças, em que teve uma acção
fundamental na solução da crise do momento, curiosamente, com
traços semelhantes à actual crise portuguesa … por isso escuto
alguns portugueses, por vezes, desejar outro Salazar …
A
segunda fase, em que ele se dá conta que tem poder em suas mãos e
assume a posição de Presidente do Concelho de Ministro.
A
terceira, em que constroi as infraestruturas para manter esse poder a
todo o custo.
Nesta
terceira fase encontro ainda duas sub-fases:
1
– até 1958-59 – a sua actuação nos anos de conflitos em que
mantem a sociedade mais o menos unida.
2
– depois de 1960 - com a guerra colonial em que perde o apoio da
maioria mas continua mantendo-se a top, respaldado pela sua policia
politica e pela censura.
O
controlo da PIDE é algo dificil de explicar por palavras.
Deixo-vos
um exemplo … chegando eu a Lisboa, em 1990 visitei o Arquivo
Nacional da Torre do Tombo, onde se reunem, entre outros os arquivos
da antiga policia politica.
Nos
arquivos sobre Humberto Delgado, entre as muitas fotos, encontrei
uma, de 1958, tirada em pleno centro da cidade de Castelo Branco, em
frente do, já demolido, Hotel Turismo, em que, de entre a multidão
se vê o meu pai, esticando o braço para tentar saudar o candidato
às eleições do regime.
Na
seguinte entrada de este blog falarei do Dr. Marcelo Caetano que
substituiu a Oliveira Salazar depois do seu acidente até à
REVOLUÇÃO DOS CRAVOS.
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